21/04/10

falar às vezes não é tudo... mas por vezes é tudo o que temos

Umas das primeiras coisas que nos ensinam quando nascemos para além de andar, é falar.
Aprender a formar pequenas palavras, mas como na tenra idade de apenas um ano ainda é difícil articular palavras completas, dizemos sílabas ou inventamos as nossas próprias palavras. Ou seja, se é para dizer algo como médico dizemos "méd-co", e os nossos pais acham uma tremenda piada a esse facto. Não, não acham só piada. Ficam maravilhados com a nossa inteligência e tentam ajudar-nos da melhor forma a formar palavras, aquelas palavras mesmo difíceis e longas. Depois de as sabermos seria mais fácil comunicar com as pessoas, dizem eles. E nós somos muito bons nisso quando somos pequeninos. Mal começamos a falar, sentimos uma necessidade tal de nos exprimirmos, que é difícil para qualquer pessoa tentar calar-nos quando queremos algo, ou quando simplesmente estamos numa de fazer birra. E resulta. Dão-nos tudo que queremos sem sequer perguntarem o porquê. É mais fácil e melhor para os ouvidos deles. Uma criança insatisfeita e aos berros consegue ser mesmo insuportável. 
Mas, quando dámos por nós, somos grandes e quase (quaseee) independentes e enfrentamos o mundo sozinhos, sem termos ninguém para nos auxiliar a formar palavras. E, é aí que dámos por nós encurralados, atrapalhados, indefesos, confusos e sem saber o que dizer. Um dia de escola, um dia de trabalho, tanto um como outro são duros e faz-nos ficar com o corpo cansado e a mente muito mais ainda. Ensinaram-nos a falar tão cedo que se tornou não um hábito, mas um vício, uma necessidade à qual se tornou impossível escapar. É estranho. Umas vezes guardamos as coisas para nós, outras vezes temos mesmo necessidade de "deitar tudo cá 'pra fora" por não aguentarmos mais estar calados, há coisas que os outros dizem que preferíamos nem ouvir ou saber. 
Após estes anos todos ainda não consegui perceber uma coisa.
Desde cedo que nos ensinam a falar e tentam mostrar-nos o quão isso é importante para podermos comunicar com outras pessoas. Eu, por exemplo, desde muito cedo que falo e, na maior parte do meu dia tenho de o fazer, não só em Português mas também noutras línguas. E se não me exprimir correctamente, sou repreendida e não me faço entender como queria. Talvez por ter de me exprimir em tantas línguas diferentes aprendi que o importante, por vezes não é o que dizemos mas o que fazemos.
Uma acção pode causar muito mal e por mais que as pessoas tentem pedir desculpas, argumentando da melhor forma que podem e tentando remediar o mal que fizeram, as palavras não chegam. Se dissermos que gostamos de alguém mas não o provarmos, de nada nos vale esse imenso imenso amor que supostamente sentimos. Sim, até pode parecer injusto. Ensinaram-nos a arte da fala e agora que crescemos ela não nos ajuda, mas prejudica-nos? 
Não sei se nos prejudica ou nos ajuda. 
O que eu sei é que às vezes as coisas falam por si.

1 comentário:

  1. Ora nem mais.
    As palavras ajudam - e muito. Só que temos que as saber usar, correctamente e no momento exacto.
    Texto muito interessante ;]

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